sábado, 11 de abril de 2020

ACHADO NO RIO MECOM




Confinados, mitigando as horas e os dias;
ditosos picos, que depois foram planaltos;
tudo somado, explorações e pandemias,
não foram bastantes para nos deitar ao chão,
que de alma cheia, pesem as mãos vazias
hemos de impor disputa e vencer pela razão,
vírus ou monstros a que o tempo nos condena,
com balas, com vacinas ou simples quarentena…

Oh, se eu domino os mistérios do Oriente,
as cousas raras de entender, os sobressaltos
e não menos o gentio que fizemos descontente,
de quem exigimos ilustração, prazer e especiarias
a troco do pechisbeque e a falsa fé do Ocidente.
Agora, que o tempo fez passar um ror de dias
é que achais na pimenta e na pólvora uma só raiz,
mas só agora, que a mostarda vos alcançou o nariz.

Dirão os mais que a cura foi obra do divino,
que a todos abençoou, precavidos e incautos,
e quem pegou em armas o fez por seu destino
e estoico empenho em servir, baldada a sorte,
é mero instrumento ou servo celestino.
Eis por que todo aquele que se livrou da morte,
em si mesmo a causa e da cura instrumento,
nesses não acrediteis, perdeis o vosso tempo.