sexta-feira, 7 de abril de 2017

BATERAM-ME À PORTA



Um par de criaturas bateu-me hoje à porta.
Trajavam: ela saia e casaco, ele fato completo,
só pelo incómodo de me ensinar letra morta,
por cartilha nova e ascendente  alfabeto.

Tresandavam, de sorrisos largos e de certezas,
com todos os demónios presos na trela,
submetidos à razão e meia dúzia de rezas,
por um dízimo mensal, autêntica bagatela.

Por fim, vendiam-me um deus novinho em folha,
senhor do mundo, como eloquentemente ensina,
para deixarem, em folheto, à minha escolha,
a vida ou a morte e um cheiro insuportável a naftalina.