Quando
um dia me mudei para a cidade
tratei
de coleccionar objectos úteis, na altura,
mas
que hoje me empecilham o sótão e por isso
resolvi
por à venda, à boleia da moda do chamado revivalismo.
Do
inventário constam os seguintes tarambecos:
Um
penico de loiça, branco, com asa, praticamente sem uso,
três
bolas de matraquilhos, em madeira, certamente
subtraídas
ao jogo para outros fins,
cinco
cromos de jogadores do barreirense, mais ou menos em bom estado
e
sem vestígios de cola atrás,
vários
livros de banda desenhada do Major Alvega e um do Mandrake,
uma
caixa com pregos de solho, com certeza sobrantes de obra feita
ou
talvez para projecto que nunca viu a luz do dia e uma sebenta
com
folhas pautadas, que exibe na capa um lusito em saudação fascista,
uma
caderneta completa da história do automóvel,
em
papel cromolux , com legendas,
uma
caixa de madeira com fechadura e sem nada lá dentro,
um
sabonete lavanda para dar cheiro nas gavetas,
quatro
aparos para caligrafia: dois para cursivo e outros dois
para
bastardo francês, um prato estampado com uma vista do castelo,
uma
cassete virgem e dois livros de poemas, iguais,
de
António Ramos Rosa, que me vieram parar à mão
por
qualquer motivo insólito, a dizer coisas.
Troco
tudo isto por um emprego.