Primeiro
vieram os comentadores desportivos
mas
como o desporto para mim é para praticar
e
não para dar à língua, nunca lhes dei atenção.
Ainda
as chuvas davam os primeiros sinais
de
mudança climática e aí se perfilavam
os
comentadores da seca. Nada faziam,
apenas
gastavam saliva e ameaçavam com a extinção
do
planeta para o dia seguinte, para a década seguinte.
Quase
todos queriam notoriedade e não os quis ouvir.
Depois
vieram os comentadores de incêndios florestais:
almanaques
de contrafogo e ordenamento territorial,
que
nunca saíram das gavetas. As suas vozes queimavam
e
eu ardia em impaciência ano após ano.
Finalmente
chegaram os comentadores da pandemia:
conhecem
o vírus, as línguas que ele fala;
elaboram
estatísticas e mapas cromáticos, confinam-me.
Tentei
inteirar-me o mais que pude e entrei nos sins e nos nãos
do
comportamento aconselhado… e depois banido.
Agora
é tarde e todos os poros do meu corpo se arrepiam de medo.
Integro
uma lista algures que não conheço.