VOAGEIRO
É certo que voamos
consideravelmente
pela estética dos passos
e a teimosia da gravidade.
É certo que voamos
deselegantemente
pela genética falta
de um par de asas.
É certo que voamos
intermitentemente
pela congénita vontade
de ser como as aves.
É certo que voamos
deslumbradamente
pela fonética magia
das asas dum poema.
É certo que voamos
eternamente
pela patética comiseração
de imitar os homens.
É certo que voamos
hipocritamente
pela técnica apurada
mas muito baixo.