terça-feira, 30 de maio de 2017
domingo, 28 de maio de 2017
sexta-feira, 26 de maio de 2017
A CALORIA
A caloria é matéria com sorte:
folgada, como o diabo à solta,
por mais que se lhe deseje a morte,
ela teima e não tarda está de volta.
Ao mais pequeno deslise
ela aí está, pronta e destemida,
sempre, ou em última análise,
por ter mais olhos que barriga.quarta-feira, 24 de maio de 2017
FLOR DA CEREJEIRA
Foto Olga Mendes
Pendiam da cerejeira
franzinas flores rosadas,
quais estrelas aladas
em alegre brincadeira.
Ou seriam mariposas
em rituais festejos,
cobrindo a árvore de beijos,
de afectos ansiosas.
Pela candura que têm,
valha a verdade instante,
são o sinal triunfante
das cerejas que aí vêm.segunda-feira, 22 de maio de 2017
AS FLORES
As
flores, o cheiro das flores
e
a perfeição que exibem sem vaidade.
As
flores são o contrário do mundo, digo
a
pulcritude da terra áspera que as impele
para
a luz do sol e dos meus olhos.
As
flores são o contrário do que morre,
do
que fere e do que sangra
(pode
ser suor apenas, mas sangra sem o sabermos)
dentro
de nós que as cheiramos e admiramos
pétala
por pétala a sua beleza natural.
São
tudo isso as flores e são também faróis de esperança
que
trazemos no olhar até que a morte nos junta.
sábado, 20 de maio de 2017
O ANJO DO MAR
Um anjo cristalino, qual fusão da bruma,
vela por devoção o mar aberto.
Mergulha em cada onda
como se fossem as nuvens do seu céu de infância.
O mar conforta, consola a sua vastidão
e, em pouco tempo, o anjo e o mar
fundem-se num elemento só:
o anjo é meio água e o mar meio anjo.
Mente o horizonte se disser
que o sol se acolhe no seu regaço,
porque o seu sono e o seu sonho
repousam ao fim da tarde no olhar do anjo
bondosamente louco.
quinta-feira, 18 de maio de 2017
terça-feira, 16 de maio de 2017
FRUTO DO LUAR
foto Olga Mendes
Dizem que a lua é um queijo
num poço, o que eu refuto:
não é tal. A lua que eu vejo
pende da árvore e é um fruto.
Fruto nocturno que é,
permite que se lhe acene
sem nunca lhe chegar ao pé.
Contudo, é generosa e perene.
O seu néctar é o luar,
que tanto provoca êxtases,
como pode até enjoar.
Depende, a lua tem fases… domingo, 14 de maio de 2017
SEGUNDO POEMA DO RATO E A POESIA
Enquanto o rato roía
da saca, no sótão antigo,
jorrava trigo;
nem um bago de poesia.
O rato esfaimado comia
e chamava-lhe um figo,
inchava o umbigo
mas nada de poesia.
Por fim, cheio de azia,
Disse: - querem que vos diga?
poesia não enche barriga.
E a saca ficou vazia.
sexta-feira, 12 de maio de 2017
CAMARINHAS
Quero
lá saber que as camarinhas
não
sejam o fruto do pinheiro…
se
o erro de botânica é grosseiro,
as
memórias do fruto são as minhas.
Não
lhes chamei pérolas de fantasia,
pois
se acres, doces eram e tão a jeito,
p’ra
quê estragar o bom proveito?
-
Chamo-lhes agora, que é poesia.
No
pinhal, um piquenique de bolinhas
brancas
de sabor meio esquisito,
não
se compara a pasteis com palito
em nada, este manjar de alvas camarinhas.
em nada, este manjar de alvas camarinhas.
quarta-feira, 10 de maio de 2017
AMIGOS
Foto Joaquim Vicente
Tenho amigos que ainda
e também amigos que já:
a uns posso dar boa-vinda;
outros já não estão cá.
O que sou, sou todos eles,
por isso sou bom e ruim:
destes um pouco, outro daqueles,
todos fazem parte de mim.terça-feira, 9 de maio de 2017
PEDRA
Uma pedra que arrima,
ainda outra pedra,
outra pedra em cima.
Não é a perfeição;
é no início
toda a construção.
Pode ir abaixo, cair.
Mas levanta-se
e torna a construir.
domingo, 7 de maio de 2017
CORRERIAS
As corridas eram intermináveis,
digo, os dias.
Dependendo do fôlego,
os nomes destes jogos variavam entre a agarrada e a fugida,
como outro brinquedo qualquer.
Corríamos por tudo e por nada
– a maior parte
das vezes, por nada –
à agarrada, ao eixo, às escondidas,
e a correr nos entendíamos, nos zangávamos
e voltávamos a fazer as pazes.
Alguns ostentavam já o músculo saliente,
característico, em redor da rótula,
outros, coleccionavam arranhões, pústulas e nódoas
negras.
Apesar de tudo, não havia o menor queixume;
a mais pequena objecção;
e muito menos a repulsa ou a vontade de desistir.
Jogo que se prezasse, tinha corrida pelo meio.
Com este pulmão menino tão bem treinado,
não admira que a corrida ainda continue.
sexta-feira, 5 de maio de 2017
quarta-feira, 3 de maio de 2017
segunda-feira, 1 de maio de 2017
ZOOLOGIA
A formiga é um insecto estranho:
para garantir a sua sobrevivência
suporta várias vezes o seu próprio peso
e corre a uma velocidade superior ao record humano
dos cem metros livres. Tudo isto é relativo.
Mas se o homem tivesse estas capacidades
creio que teria já acabado com as formigas,
com os buracos onde elas vivem
e com a Terra, um
número indeterminado de vezes.
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