Nos sonhos nunca encontro os papéis,
e nem sempre é pesadelo nocturno:
sobram-me os dedos, vão-se os anéis
e nada disto me compara a saturno.
É de outro lugar, de outro firmamento,
o desconforto, a aflição, a cabeça à roda.
Na verdade é náusea, descontentamento,
sintoma deste tempo que virou moda.
Afora a frustração, a raiva e demais agravos,
sinto as dores de outros, sonhando ou não:
ou alguém anda a fazer de nós parvos
ou a doença precisa de nova prescrição.
Os olhos, de cansaço feitos, vêem no céu
a vastidão imensa e escura do sistema
e dentro, apenas lágrimas têm de seu,
por vezes um grito como é este poema.