Tenho a casa cheia de palavras.
Nos quartos, salas e até na despensa.
As casas na cidade têm muita arrumação.
Ao contrário, na aldeia, tudo o que não é necessário
de imediato vai para a loja
e só de lá é retirado conforme a precisão.
Não quero dizer que as palavras estejam alinhadas,
catalogadas em local próprio, nada disso:
andam como querem, à solta,
brincando umas com as outras e muitas vezes
a pregar partidas a quem não as espera encontrar.
Sem elas, as palavras, não podíamos dizer coisas.
Na aldeia quase nos entendemos por gestos
mas na cidade é preciso estar sempre a dizer coisas
novas.
Os seres humanos precisam de dizer coisas uns aos outros
e é por isso que eu tenho a casa cheia de palavras.
Não sei se nos estamos a entender.