Uma
dor que se insinua e que não dói,
se
finge magoada dor e mal se sente;
molesta
por ser dor, a dor ausente
e
por ser sentidamente a dor que foi.
Em
seu vazio, tão doce e persistente,
é
como azenha que lentamente mói,
aos
poucos esmaga enquanto se corrói,
sem
mostrar a dor que a própria sente.
Dor
insensata lhe dará algum prazer,
o
seu contrário, que a si se faz doer
e
se esconde em crisálida como morta.
Torna
depois, arrependida, bate à porta,
que
de magoar se fica, pouco lhe importa,
esta
dor que se envergonha de doer.