O tempo não é a corrida desenfreada
dos ponteiros do relógio.
Tempo e horas não são da mesma natureza:
horas são riscos, números, desencontros; e o tempo
uma nascente de água cristalina que se alarga
e ganha caudal, à medida que avança e dá lugar
a um mar de superfície azul, denso e de inquietude
inexplicável.
Enquanto as horas se marcam e desmarcam,
favorecem ou molestam por serem horas boas e más,
faz tempo que o sangue me percorre as leiras
sequiosas e alimentam as minhas raízes sem fim.