Ah, que sorte: hoje há deuses lá em cima
sedentos de versos, dormentes de sono!
Vou fazer-lhes pontaria com rima
e acertar-lhes em cheio no buraco do ozono.
Podia ser em lugar alabastrino, como a testa,
mas é pecado, além da enviesada geografia:
não os quero mortos nem o fim da festa,
quero apenas treinar a pontaria.
Qualquer deus é grande, maior que tudo,
de forma que vivem longe em lugar além…
A seu modo poliglotas, estilo surdo-mudo,
e assim ditam o pecado, o mal e o bem.
A seus ministros é pesado o fardo alombado:
abençoam, excomungam, conforme as escrituras,
alteram as combinas, corrigem o pecado
e determinam a morte e as vidas futuras.
Eu vou falar com um deus um dia destes
e dizer-lhe cara-a-cara, muito abertamente:
“mas que mundo é este que concebestes
onde só vós viveis sem leis eternamente?”