Havia notícias duma guerra
longínqua
e, ao mesmo tempo, presente em
todos os gestos e falas.
Mais gestos do que falas.
Os nossos eram os bons e acenavam
com um adeus sombrio
quando embarcavam em Lisboa.
Os que ficavam no cais
imitavam-nos,
mas com lenços e lágrimas, num
mesmo adeus sombrio.
Não se sabia se o inimigo também
embarcava desta forma
e se chorava, se tinha um cais,
família e despedidas com lenços,
lágrimas e um adeus sombrio.
Os nossos não morriam nunca,
como nos filmes; desejavam
prosperidades todos os natais
e escreviam aerogramas para as
madrinhas de guerra,
prometendo regressar mais
saudáveis do que nunca.
Que soubéssemos, como disse,
os nossos eram os bons
e isso transformava-nos em
inocentes querubins de alma branca
e olhar atónito, sem lágrimas que
não fossem de imitação.