Não cristaliza o verso se não disser:
em s. marcos ganhei o meu primeiro par de asas
e a minha mãe trepou às nuvens
com os seus pulsos brancos de defunta
soube então pelos animais como se prende a vida
a um fio de água
a mesma água de alma verde do chafariz
ah meu alpendre de
granito quanta pena tenho
de te ter ultrapassado já mil vezes
(a minha avó dizia: vai só até ali
para a estrada não)
minha sala de visitas
cadeirão dos mais amigos
anda vem comigo meu
s. marcos
deixa de fingir encruzilhada
temos água apenas
água de saudade
memória de água e musgo
e o mundo a começar ali à esquina:
a esperança volta pontualmente
com as primeiras chuvas