sábado, 24 de agosto de 2013

LARGO DE S. MARCOS


Não cristaliza o verso se não disser:
em s. marcos ganhei o meu primeiro par de asas
e a minha mãe trepou às nuvens
com os seus pulsos brancos de defunta

soube então pelos animais como se prende a vida
a um fio de água
a mesma água de alma verde do chafariz

ah  meu alpendre de granito quanta pena tenho
de te ter ultrapassado já mil vezes
(a minha avó dizia: vai só até ali
para a estrada não)
minha sala de visitas
cadeirão dos mais amigos

anda  vem comigo meu s. marcos
deixa de fingir encruzilhada
temos água  apenas água de saudade
memória de água e musgo
e o mundo a começar ali à esquina:

a esperança volta pontualmente
com as primeiras chuvas