segunda-feira, 14 de novembro de 2011

MEMÓRIA DA CASA ANTIGA


Uma fenda elegante e sinuosa percorreu o tecto,
desceu depois pelo estuque da parede antiga
e, sem memória ou traço de arquitecto,
em pouco tempo dividiu ao meio toda uma vida.


Na minha geração foi apenas um rabisco;
um ar de graça acima de qualquer suspeita.
Mas com os anos acabou por se tornar um risco
a que a família não podia estar sujeita.


Deixámos a casa. A vida tem destas partidas,
e em nova casa há mais conforto, é mais selecto.
Agora é a saudade das coisas mais antigas
que, caprichosa, faz lembrar a fenda no tecto.