quinta-feira, 6 de agosto de 2009

DE CHILE VESTIDO

Olhares - Foto de Raphael o Pensativo

Pablo cantava o gelo e o fogo
da pampa
do bosque
da vida
a razão enfeitiçada de um povo
que rasga a terra
como quem faz um poema

Era como se a esperança florisse
nos muros de Santiago
em letras cor de madrugada
apunhalada
pelas costas
com um sabre de prata

Era como se a noite tivesse
corvos no peito e dina
mite nas veias
morfina
e havia grãos de areia na ternura
sorrisos
a mais no vocabulário
da paciência

Mas o metal corrói
é uma larva que se entranha
e deixa lastro de sangue
em três álamos por inventar
e o metal corrói
é uma doninha que suga
exangue
e Setembro é que nos dói

("Ultrapassar os Limites" - 1980)

6 comentários:

  1. Belíssimo, João. O metal é mesmo larva que corrói. Um abraço.

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  2. Pois, foi em Setembro de 73. Como diria o Mingas,"esquecer eu não consigo, os massacres de Santiago". E a morte de Vitor Jara.

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  3. Algumas memórias afloram trazidas por estes maravilhosos versos.
    Desilusão ou descrença!?

    Beijo

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  4. "Era como se a esperança florisse."

    Tudo a ver com minha postagem de hoje,
    à qual chamei de "Felicidade".

    Aproveitemos a-gosto!
    Um beijo,
    doce de lira

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  5. Gostei muito de como falas com ternura poética de um tempo de ignomínias.

    Abraço.

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  6. Belo teu escrito! Tenha uma boa semana!
    Beijos Luz! Ro

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