O mar atirou-me
um búzio para que ouvisse
o som das suas loucuras,
dos seus lamentos.
Começou por uivar blasfémias,
que todo o som ali contido
era tudo quanto existia,
que todo o som ouvido
além do búzio
continha perigos
difíceis de conter e imaginar.
Ele, o mar, era o senhor absoluto
de tudo quanto existia:
uuuuu…uuuu… uuuu… - Dizia.
Ele era a alegria e o medo;
o bem e o mal;
a palavra e o segredo.
Era ainda o horizonte e o infinito
e o sal da verdade.
Deus, qualquer deus era invenção sua,
dele, do mar.
Senhor da língua e das onomatopeias:
Uuuuu…uuuu…uuuu…
Mar por ser imenso, como gente,
tudo e nada dentro de um búzio, apenas.