Para conhecer o mundo viajamos,
tocamos pedra a pedra, a calçada
e para nos conhecermos, onde vamos,
qual é o rio, o mar, a estrada?
Assim fizeste com todos os sentidos,
criando gestos e palavras quando a voz
faltava ao próprio mundo, e já perdidos,
contavas em viagem à volta de nós.
Ainda mal chegado, já estavas de saída,
e, por aí fora, um dia, um mês, um ano,
até que a missão fosse concluída.
E que nos deste desse teu labor insano,
senão obra universal de amor à vida,
palmo a palmo, um hino ao valor humano?
****
Viajar não é sair daqui, abalar;
agitar o lenço a quem se deixa
com promessas de depois voltar
consolado e sem razões de queixa.
Vêm aquelas lágrimas da praxe,
com as mãos atiramos beijos,
havendo mesmo quem não ache
ser motivo para festejos.
Não, viajar é não estarmos sós
e, mais do que palmilhar o mundo,
é caminharmos dentro de nós
no sentido humano e mais profundo.