terça-feira, 30 de janeiro de 2018

PEDRA-DE-TOQUE


As pedras têm rondado os meus versos
com a frequência dos meteoritos.
Creio que o fazem por imitação das palavras.
Como elas precisam de um intérprete
ou correm o risco de calarem para sempre
a sua razão de existirem.
Serpenteiam os poemas, inflamam os versos
e abrem-se, por fim, para quem quiser espreitar
a sua alma de infinita delicadeza,
de proverbial eficácia.
Têm vida própria e jamais as convenço
sobre funções ou itinerários.
Permito-lhes uma existência natural,
a mesma que me é dada a mim,
enquanto não precisar de arremessá-las
contra os muros levantados pela indiferença.