Vou chover quando partires,
disse a nuvem à cegonha,
e do outro lado onde me vires
não choverei por vergonha,
ou em vez de chover, decanto
e de tal modo desbragada,
que às lágrimas do meu pranto
lhes chamarão trovoada.
Não o faço por malvadeza,
mal do tempo que é o meu fim:
são ardis da natureza
ao aproveitar-se de mim.
Sou como o Sol e o vento,
por isso não te admires
e, para teu conhecimento,
vou chover quando partires.