Klimt, mulher com leque
Reparo na poesia de todas as coisas:
das árvores que sacodem as folhas já amarelecidas,
mantendo ainda o porte denso e vigoroso;
dos pardais que a elas regressam em louco frenesim
ao fim da tarde, como se temessem que o sono
os surpreendesse em pleno voo;
do baile sensual da calçada portuguesa em vésperas de
Outono
e da mulher, de calores serôdios, que se abanica
e que, olhada de repente, parece uma improvável criatura.
E assim me convenço de que a poesia é o movimento das
coisas,
a insinuação da vida pendente
em tudo o que recusa a fatalidade da morte.