A pomba (branca) desceu finalmente
do seu altar de paz e veio pousar na praça,
junto às demais e aceitar as migalhas
que os velhos e ociosos costumam atirar aos pássaros.
Não contente com Picasso, que a desenhou, pintou e
esculpiu
dezenas de vezes durante anos a fio
sem a contrapartida de uma migalha (de esperança).
Diz-se cansada do voo interminável a que foi sujeita,
com o raminho de oliveira no bico – que nem sequer
podia engolir – apelando à paz entre os homens.
Cansada e velha (a pomba) passa agora os seus dias
junto aos da sua espécie, come as migalhas que consegue,
arrulha como os outros e dá trabalho
a quem é obrigado a limpar diariamente as ruas.