O
mais atrevido picava furtivamente
a
batata cozida que era já cuidada para a próxima refeição.
-
Guardado está o bocado…
No
panelão de ferro escuro afundavam todas as batatas,
mais
ou menos à conta, com casca,
para
que o entretém do desbulho
provocasse
a sensação de uma refeição farta e prolongada.
-
Ficavam assim mais saborosas, era a versão familiar.
O
pai contava sempre a mesma história:
que
a batata não era um fruto como a castanha,
mas
um tubérculo, uma raiz,
que
era recente na nossa dieta habitual
e
que tinha sido trazida da américa.
Isso
dava a todos a impressão de um manjar exótico,
apesar de saber ao mesmo
que
o som da palavra que lhe dava o nome.
Comiam-se
com ganas de tapar todos os buracos,
que
o sol ou a chuva abriam algures no ventre.
A
tudo isto se chamava ceia
(nada
parecida com o quadro com o mesmo nome
pendurado,
desde que me lembro,
por
cima do aparador da sala)
a
tudo isto chamávamos ceia
porque
não tínhamos outro nome para lhe chamar.
Poderíamos
chamar-lhe fome,
se
soubéssemos o que era fartura.