O
ar coquete e aramado da cidade
faz
o olhar estrábico, contrafeito,
dá
náuseas mal lhe bate a claridade,
que
de adejar se lhe perde o jeito.
Os
módulos do franchising estrangeiro
rompem
o casario gasto e escondido
de
fina vista, quer de olho, quer de argueiro,
qual
gravata em pingente encardido.
Antes
ou depois, o moderníssimo deserto
que,
de inverno ou em pleno estio,
releva
para longe o que está perto
e
me deixa a alma viva por um fio.
Ah,
como me divirto, andando por aí
a
coberto de autênticas obras de arte!
Ferro
assim e ferro assado, aqui e ali,
isso
fazia eu, modéstia à parte…
Os
repuxos de água são um encanto:
descuida-se
o cidadão menos avisado
e,
antes que a novidade cause espanto,
já
tem o bárbaro esguicho no rabo.
Mas
os artistas ou o arquiteto de agora,
bradam
como os vendedores das feiras:
módulos,
baguetes e por aí fora,
como
são feitas as minhas prateleiras.
Bancos
de madeira exótica, envernizados,
fingimento
de aço a imitar as caravelas
e
nós, bons cidadãos embasbacados,
como
vivemos o tempo todo sem elas?
Só
o Amato, de Lusitano nome, aponta,
mas
para um lugar incerto, ao calha:
talvez
ingénuo ou de pouca monta,
ou
será um estranho lóbi que o amortalha?
Respiro,
consumidor de vento, compulsivo,
mas
não os sítios, os prédios e os cheiros
que
sempre me fizeram sentir vivo
e
agora matam em desvãos alcoviteiros.
Se
a minha meninice foi tragédia,
singrando
a pulso, ganhando a praça,
agora
e na hora da vil comédia,
que
outra aflição espero senão farsa?