Quero lá saber se é nascente
ou foz a água em que me afogo:
quero é uma boia onde me assente
e deixe a dúvida para mais logo.
Se para ir ao fundo é bastante
não ter arte ou erudição de peixe,
ficarei onde já não me levante,
o corpo teime ou não me deixe.
Ou não, que o fundo não é morte,
é antes uma espécie de colchão
onde a alma, com alguma sorte,
sobe, vai à tona e dá-me a mão.
Morrer será assim o que consiste
em ir ao fundo e vir depois acima;
um raro carrocel em que subsiste
em vida, carregar a morte em cima.