segunda-feira, 3 de junho de 2013

(DES)ACORDO


Esse irmão brasileiro
é um bacano engraçado,
esperto e avisado:
vai no português prático
e quer acordo otográfico
que nem professor danado.

Esse irmão brasileiro
é fogo de vera cruz
quer o diabo, deus e jesus,
sem cês e agás mudos,
conforme seus estudos
bordados a ponto-de-cruz.

Esse irmão brasileiro
quer tudo registrado
excepto o brasileiro falado:
cafajeste, viado e pebolim,
aeromoça e colibrii,
que não constam do tratado.
 
Esse irmão brasileiro
diz que é português sem ruga
e se há verdadeiro portuga
chute a bola prá frente
que o zagueiro é resistente
e, além do mais, é tuga.

Esse irmão brasileiro
é bom irmão, camarada,
dá de barato, não quer nada;
apenas trocos, reais, cachaça,
senhora cheia de graça
e mais alforria assinada.

Esse irmão brasileiro,
bom povo irmão, repito,
não está nisto por conflito
apenas quer dizer primeiro
como se diz em brasileiro,
eu é que lhe faço o manguito!

Esse irmão brasileiro,
brinca na areia, esse irmão
do samba e do violão,
seja paulista ou carioca
quer português em troca
do seu gingado calão.

Esse irmão brasileiro
do carnaval, do candomblé,
do amazona, do jacaré,
bate um samba na favela,
toca violão de trivela
e em português, como é?

Este primo português
lava as mãos como Pilatos
e, irresponsável nos atos,
deixou-nos na confusão,
analfabetos ou não
diz que os acordos são fatos.