segunda-feira, 27 de maio de 2013

A MINHA ALDEIA



Na minha aldeia oiço as pessoas quando falam
de si, dos outros e de gente de ouvir contar,
porque falam à porta quando eu passo na rua.

Na minha aldeia não há segredos
que não os saibam toda a gente, embora continuemos
a acreditar que é segredo e a passá-lo
de boca em boca como quem oferece novidades.

A minha aldeia não é como na cidade grande,
onde as pessoas se escondem e mentem por omissão;
se fecham nas suas casas e lá guardam os segredos
que ninguém sabe e é tarde quando se conhecem.

Na minha aldeia chamam choro às lágrimas
e bordam de flores as escadas para a rua
como lágrimas duma alegria triste e envelhecida.

Na minha aldeia – desculpem se insisto – as pessoas
não são melhores que as da cidade:
o que acontece é que são as pessoas da minha aldeia,
o céu é muito maior e tudo cabe lá dentro.