quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O TEMPO DA POESIA


Naquele tempo a poesia poisava nos laços

das raparigas até serem adultas

e desfazerem as tranças;

vinha com o cheiro do leite, comprado à porta,

que perdurava na rua durante horas;

trazia os pássaros até às nossas pequenas mãos,

mesmo quando não tinham fome;

rebolava pelas encostas dos montes

e misturava-se com a palha e a terra, e magoava-se.

Depois passou para o domínio dos poetas;

escreveram-na em livros e pintaram versos nas paredes

para a devolver às ruas da amargura.

Há cachos de versos ainda debruçados nas varandas,

mas a poesia nunca mais foi a mesma.