Naquele tempo a poesia poisava nos laços
das raparigas até serem adultas
e desfazerem as tranças;
vinha com o cheiro do leite, comprado à porta,
que perdurava na rua durante horas;
trazia os pássaros até às nossas pequenas mãos,
mesmo quando não tinham fome;
rebolava pelas encostas dos montes
e misturava-se com a palha e a terra, e magoava-se.
Depois passou para o domínio dos poetas;
escreveram-na em livros e pintaram versos nas paredes
para a devolver às ruas da amargura.
Há cachos de versos ainda debruçados nas varandas,
mas a poesia nunca mais foi a mesma.