Nunca me fizeram um retrato
de poeta.
Mas fotografaram, pintaram e até esculpiram Pessoa
com o inevitável chapéu de feltro e o par de lunetas
que repartia com todos os heterónimos.
Não tenho um único retrato
de poeta.
Ao contrário de Walt Whitman,
que foi imortalizado em pose de patriarca iluminado,
velho, de barbas esgadanhadas muito além da decência
da pilosidade poética.
A Baudelaire que era feio, fizeram-no
com certeza por maldade.
Eu é que nunca posei
enquanto poeta,
com a mão apoiando o queixo, como os românticos
ou ambas todo o rosto, como os surrealistas.
Ou será ao contrário?
Vá lá, por favor, façam o meu retrato
de poeta,
que não tardam aí poetas do futuro,
desejosos de escrever sobre ele um ou dois versos
dum poema magnífico.