Pablo cantava o gelo e o fogo
da pampa
do bosque
da vida
a razão enfeitiçada de um povo
que rasga a terra
como quem faz um poema
Era como se a esperança florisse
nos muros de Santiago
em letras cor de madrugada
apunhalada
pelas costas
com um sabre de prata.
Era como se o cobre limasse a retina
emboscada
nos olhos do abutre ianque
Era como se a noite tivesse
corvos no peito e dina
mite nas veias
morfina
E havia grãos de areia na ternura
Sorrisos
a mais no vocabulário
da paciência
Mas o metal corrói
é uma larva que se entranha
e deixa lastro de sangue
em Três Álamos por inventar
E o metal corrói
é uma doninha que suga
exangue
e Setembro é que nos dói.
(Ultrapassar os Limites, 1980)