Um
dia tudo acaba.
Ficam
as flores envelhecidas numa jarra esquecida;
um
par de sapatos velhos e sem atacadores no sótão;
os
papeis a que tínhamos perdido o rasto;
as
últimas tarefas, aquelas que não se realizaram
por
falta de tempo, que inexperientes e incautos
(os
outros chamavam-lhe teimosia) julgámos ter de sobra;
e
a memória, se a deixarmos, num retrato do aparador.
Se
mais memória de nós houver, talvez a evocação
anual
do ente que tão cedo lhe foi ceifada a vida
ou
tão generosos lhe foram os longos anos de existência.
Eis
a vantagem do que de si se pode ainda presumir.
Depois,
trocaremos o vocabulário pelo silêncio
e
ninguém mais se lembrará de tais lamechas.
Então,
muitos teremos direito a flores.
Umas
em plástico, muitas sem tamanho merecimento.