Era
um daqueles miúdos
pobres,
sujos, sisudos,
que
se encontram por aí,
à
porta de coisa nenhuma,
com
fome ou se presuma
porque
nos olha e não ri.
Um
dos miúdos surreais
expostos
nas redes sociais;
seminu,
sem eira nem beira,
com
o ranho a sair do nariz
(ranho
é feio, não se diz…)
brincando
junto à lixeira.
Não
fosse a nossa virtude
cristã,
filantropia e amiúde,
grande
peso na consciência,
nem
tínhamos dado por ele,
coitado,
de seu só tem a pele
a
cobrir-lhe a existência.
Figura
assim posta a jeito
para
um retrato a preceito,
não
é miséria, é fantasia;
arte
e, bem entendido,
pode
até ser promovido
em
prémio de fotografia.
O
resto é figuração,
falsa
fé, desdém, resignação,
demais
lutos, manigância…
sentimento
que logo se arruma
em
lugar discreto e, em suma,
nada
que tenha importância.