Tinha coisas importantes para dizer
e de um momento para o outro acabei
por abandonar a ideia. Era sobre os rios,
mas tive medo de ser mal interpretado…
Lembrei-me que talvez não vos interessasse
saber ou vos maçasse ao falar de um tema
tão corrente. Corrente é o termo exacto.
Mas como nunca lhes prestais atenção
e preferis as pontes... Os rios molham
é isso; lavam o que é preciso e levam
o que é descartável e sem utilidade.
Quase sempre há pontes para os atravessar
em certos pontos, sem problemas de maior,
para o outro lado, para o lado sem rio.
Na verdade, esse lado onde já não há rio
é cada vez maior e o que queria contar, insisto
(continuo a maçar-vos com ninharias…),
é que se prevê acabar com as pontes,
o que é a única boa notícia, porque se prevê
que os rios sequem e com eles a vossa água
canalizada e mesmo a vossa água benta.
O mar ficará então cheio de rios mortos,
gigantescos e cintilantes cristais de sal
para serem vistos por outros a milhares de anos luz.
Podereis assim deixar de passar por cima
desses problemas chamados rios,
dar largas ao que designais por águas passadas
e enxugar de sede a vosso belo prazer.