Maré alta, fiz-me ao mar,
no miolo das ondas, sem pé,
para saber como é
um pé de sorte, a preia-mar
sem mesmo saber nadar,
sequer na maré baixa
e muito menos usar
camisola de alcaixa.
Maré vaza da vida
em mar parado, matreiro,
sem arte de marinheiro
de sete vidas vestida.
O bote está de partida,
bem no alto, na amurada,
no adeus de despedida,
não é partida, é chegada.
O bote partiu mar adentro,
tomou agulhas e rumo,
todo de tremuras e fumo.
Apenas resta o vento.
E no centro, bem ao centro
aí estou, ainda de atalaia,
acenando para dentro,
sem nunca sair da praia.