O fogo, ainda fogacho, nasceu em umas palhinhas deitado. Enjeitado à nascença – crê-se que fruto de um qualquer descuido – teve que fazer-se à vida sozinho e pelo seu pé.
Enquanto jovem foi uma graça: brincava com carumas
espalhadas na floresta, folhas secas e, mais tarde, com fósforos, que acabavam
por perder a cabeça de tanta brincadeira.
As pessoas acharam-lhe graça, chegando mesmo a louvá-lo
em festas e romarias em honra de santos padroeiros, carnes assadas e vinho.
Saltitava, ora à frente, ora atrás das procissões,
brincava em lanternas improvisadas que os anjinhos faziam erguer em acção de
graças, graças ao fogo que nunca se cansava de arder, pois era o que melhor
sabia fazer, ou melhor, a única coisa que aprendeu a fazer, por via das pessoas
cujo ensinamentos não tinham para dar e se limitavam ao leviano deixa arder.
Fruto de más companhias, diziam, chegou a participar em
guerras, dominando os oponentes, de quem lhe dissesse que eram os oponentes. A
água era o seu inferno, o resgate da sua alma.
E pronto, adulto já todos o conhecem: ficou enorme, quase
sempre anónimo e agora podem soprar à vontade, que já lá não vai com paninhos
quentes, salvo seja.
