quinta-feira, 30 de maio de 2024

INCOMUNICÁVEL


O amor por um tris

te de mim que o sei

o breve me iludiu

 

a vida duradoura de fio

a pavio que arde

mas não cura

 

futuro promissor e lim

bo que espera

sempre amanhã

 

e na arte de en

cantar vamos rindo

depois falaremos disso


 

domingo, 26 de maio de 2024

POEMA DO NADA



Prefiro o sono que não vem

quando é mais preciso, por cansaço;

não pelo fastio, no cúmulo, que é desdém,

e esse é favor que não quero e que não faço.

 

Espero por palavras desocupadas,

das que não se oferecem, ninguém dá por elas,

depois fazemos uma roda de mãos dadas

imitando uma constelação de estrelas.

 

Quando o sol, mais que perfeito,

aloira os campos ainda adormecidos,

chegam as palavras novas ao seu jeito

já com destinos traçados e limpas de resíduos.

 

É a hora do poema, da palavra átona, preguiçosa,

pouco mais que simples heresia.

E é a isso, a essa pérola preciosa,

que por hábito lhe chamamos poesia.

 

quinta-feira, 16 de maio de 2024

MINHA COLECÇÃO DE JÓIAS RARAS


 

Os teus olhos, melhor,

o teu olhar

uma lágrima

com o arco-íris dentro

um cravo vermelho

um par de asas por estrear

e outro par de brincos de cereja

o teu olhar, já tinha dito?

beijos, como novos, que não encontraram

os lábios de destino

uma gotinha d’água do Alentejo

uma mesa de tripé com quatro pernas

para não se confundir com as de cinco

trinta folhas de amoreira

sobrantes da última Primavera

dezenas de gavinhas secas

que por algum motivo fui juntando

e o último suspiro de um cisne

guardado numa campânula de vidro.

 

Gostava de ter acrescentado os teus olhos,

melhor, o teu olhar,

mas esqueci-me.