segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

A DE VERSO



Esta manhã tive um estranho encontro comigo,

como se não nos víssemos há anos.

Ou pior ainda, como se não nos conhecêssemos.

Era muito mais novo e tinha um sorriso tímido,

talvez duvidoso, a adivinhar o futuro.

Parti do princípio que a minha vantagem sobre ele

bastaria, excepto as pernas, que fraquejam agora,

mas isso não vinha a propósito.

Disse-lhe o que é costume nestes encontros:

Tens um aspecto magnífico, que fazes por aqui

e surpreendeu-me a sua resposta:

tenho estado onde me deixaste da última vez;

tens passado por mim ao longo dos anos

sem te aperceberes e agora, que as pálpebras

te vão pesando, queres abrir os olhos para mim

e demais memórias sem regresso nem remédio.

E a minha teimosia em viver vai caminhando

Inexoravelmente, até onde o Sol finge caminhar também

entre o céu raiado e o espelho do mar.