Dizes liberdade e água e pão como eu digo,
com as mesmas letras de quem não come.
Oiço-te muito bem, oiço-te e sigo,
pois nada do que dizes me mata a fome.
Podes gritar, indignar-te, espumar pela boca,
não é a minha deixa, o quadro não me assiste.
Quando eu clamar de tudo o que me sufoca
dirás que não me entendes, nunca me viste.
Em nome das palavras ficamos entendidos:
As tuas não chegam ao que as minhas são capazes:
só aparentemente vão nos mesmos sentidos,
não fosse a sua condição na luta de classes.