Devia
haver dois portugais
como
num jogo de espelhos,
com
perdão dos animais,
de
um tiro se matam dois coelhos.
Pouca
terra e tanta gente
a
quem corre mal a vida
e
diz que não tem saída
desta
crise permanente,
que
do futuro faz presente
e
se queixa com tantos ais,
sendo
pior quanto mais,
que
a solução é só uma
antes
que coisa nenhuma,
devia
haver dois portugais.
O
que faz falta fenece
num
abrir e fechar d’olhos,
só
a morraça é aos molhos
de
tanto mal que acontece.
Já
nem rifas nem quermesse,
nada
tem volta ou trambelhos,
sejam
novos, sejam velhos:
se
encolhe é a desgraça
se
duplica acham-lhe graça
como
num jogo de espelhos.
Safam-se
os do costume
(do
fruto podre vive o bicho)
e
não se importa ser lixo,
digo
lixo, não estrume,
que
depois ninguém assume
a
não ser p’ra fazer mais
como
pombos e pardais,
esgravatam
até ao osso
e
levam tudo o que é nosso,
com
perdão dos animais.
Duplicar
é a solução
como
duas gemas d’ovo
ou
então cambia-se o povo
por
outro que esteja à mão,
que
aceite a imigração:
trocam-se
os novos p’los velhos
impostos
por bons conselhos
e
a sorte logo duplica
se
mal está pior não fica
de
um tiro se matam dois coelhos…