quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

RUY BELO



Contigo não faço mais que a minha obrigação.
Só não sei o que fazer com os teus versos d’iodo
e a tua mortificada vida, cantada na Consolação,
poeta à tona ou naufrago, dito de outro modo.

Arrimas às ondas as rimas das odes alterosas
e os poemas desfazem-se em sal e espuma.
- Densos e sublimes são teus versos e prosas,
inquietas odes, que desfio à noite, uma a uma.

É como ter no mesmo frasco o mal e o remédio
e, voluntariamente, tomá-los qual bebedeira,
de modo que, desperto e de exuberante tédio,
durma enfim, merecidamente, a noite inteira.