domingo, 28 de abril de 2013

A.O.



Uma luz no teto,
um c no cato,
aí não me meto
nem me mato.

O ator veste
ou é, de fato?
que acordo é este;
que desiderato?!

Perdoem a redação,
a confusão ou estorvo:
não é minha intenção
nem estou de acordo.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

DOS BÚZIOS



Naquele dia o velho búzio
emergiu do oceano
desenhando círculos no espelho da água
e a praia cobriu-se
duma espessa e incorruptível bruma

naquele dia o velho búzio
não era mais que uma crisálida de névoa
em vésperas de música

segunda-feira, 22 de abril de 2013

POSSIBILIDADE DE AGUACEIROS

E é já na próxima sexta-feira, dia 26, pelas 18 horas, no Auditório da Biblioteca Municipal, o lançamento do meu livro de poemas POSSIBILIDADE DE AGUACEIROS. Aqui dou conta da respectiva capa (desdobrada). Sobre o conteúdo dirá a Drª. Cristina Granada e todos vós... Até lá.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

OS RECICLADOS




Dos príncipes lustrosos e perfilados,
com discurso ampliado e já revisto,
vamos ouvindo falas em tons ultra irados
e mais não fazem, não passam disto.

Cambalhotas de puro divertimento
em palcos de renome e bom registo,
disso fazem, se a tanto for o atrevimento
mas, como já disse, não passam disto.

Antes foram estes os mestres do embuste,
depois, no costumado rendez-vous previsto,
negam a própria mãe, ainda que lhes custe,
para voltar ao mesmo, não passam disto.

Chamem-lhes salvadores, messias, Cristo:
negam, juram; juram, negam e não passam disto.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

CATARINA EUFÉMIA



Quem lhe atirou a matar
está vivo e de regresso,
já não ordena mãos ao ar,
mata por outro processo.

Agora veste cambraia,
invólucro de popelina
e é com essa indumentária
que esmaga, mente, assassina.

Eles aí estão de novo,
Com suas carinhas de santos,
sugando as veias ao povo
para dar o sangue aos bancos.

Catarina foi uma lição
do que hoje podemos ser:
juntemo-nos, demos a mão
e juntos iremos vencer!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

JOGO BRANCO



De insónias se faz o sono,
toda a chona de solavanco,
já se não é de si dono
e passa-se a noite em branco.

Há três gerações que é o isto:
faz-se da vida um tamanco,
a investir, a correr riscos,
vai-se a ver, sai tudo branco.

sábado, 13 de abril de 2013

A VOLTA




Não é normal que a gente
passe a vida a pedalar
sem ver o pelotão da frente
par a par.

Não é justo o sol presente
que, em tese, é suposto
ser de toda a gente

e, uma vez à frente,
já é sol posto.
Pedalamos à nossa maneira:
da frente para trás,
de trás para a dianteira,
a mostrar como se faz,
dando gás na bicicleta
com os olhos postos na meta
e os pés na pedaleira.

terça-feira, 9 de abril de 2013

PROPRIEDADES DA ÁGUA



A água torna puras as almas
e pedras grandes em pedrinhas,
por isso vê se te acalmas
no rio onde chapinhas.

Teus alvoroços e velas
não te auguram boas medras:
só se, esconso, o diabo ao tecê-las,
te benzer com água das pedras.

domingo, 7 de abril de 2013

ÚLTIMA LUA



Já sabemos que mente
com quantas fases tem:
se decresce é crescente
e se cresce já não vem.

Inspira uivos aos lobos
oculta-se na água dos poços:
encanta os tolos;
engana os moços.

Bateu certo por uma vez
nas fases e voltas que tem,
na hora no dia e no mês
da novena de minha mãe.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A LUA E O VENTO



O vento a tudo vence,
altera e muda o lugar;
já a lua não convence
senão através do luar.

Passando por desiguais,
bem vistos um a um,
afinal têm bem mais
que o universo em comum.

Unidos p’lo mesmo invento,
para que um, outro não exclua,
quando ela é cabeça de vento,
ele tem a cabeça na lua.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

A LUA DOS POETAS



Por razões de autodefesa
o poeta mora na lua
para espreitar a beleza
do alto para o meio da rua.

Outras vezes, por tristeza,
diz a verdade mais crua,
por razões de autodefesa
de quem vê passar na rua.

Às vezes é ideia sua
outras não mas, com certeza,
di-la lá do alto, da lua,

por razões de autodefesa.

terça-feira, 2 de abril de 2013

A ROSA



Tenho uma rosa à janela
debruçada para a rua,
sem ser minha nem tua:
é uma rosa só dela.

Rosa de cheiro e em flor,
vermelha como convém,
não pode ser de ninguém:
é em si mesma o amor.

Quatro pétalas por troféus,
que, por magia de sábios,
a rosa é os teus lábios,
quando se juntam aos meus.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

CANTO



Se for canora a ave além escondida,
hei-de ouvi-la, hei-de saber-lhe o nome.
Caso não, que cale para toda a vida
a dor de não dizer o que a consome.

E eu, que canto em versos melodias
da mágoa do que tenho compromisso,
-assim faço o hino dos meus dias-
mais não encantarei por isso…